sexta-feira, 26 de maio de 2017

Devemos vacinar nossas crianças? – Capítulo I

Inicio esta postagem dizendo que a pergunta que dá título a este texto não deveria sequer ser considerada no século XXI. Entretanto, em várias partes do mundo, um número crescente de mães e pais têm denegado a seus filhos o direito de serem protegidos de doenças potencialmente fatais ao não permitir que eles sejam vacinados. Ao longo da história, desde a implementação de programas de vacinação, vários movimentos tentaram convencer a população que vacinação poderia predispor a outras doenças. Uma das correntes atuais do movimento antivacinação divulga que haveria risco aumentado de desenvolvimento de autismo pelas crianças vacinadas. Invariavelmente, todos estes movimentos foram desmistificados pelos fatos científicos. Entretanto, com a expansão das mídias sociais, tais informações voltaram a ganhar força colocando em risco avanços alcançados pelos programas de vacinação.
Para tentar convencer aqueles que ainda tem alguma dúvida a respeito dos benefícios da vacinação tracei a seguinte estratégia: i, primeiro vou contar a história de como a vacina foi desenvolvida; ii, em seguida vou mostrar alguns números que revelam como a vacinação foi um dos avanços da medicina que mais impactaram na expectativa de vida dos seres humanos; iii, vou explicar como a vacina funciona para nos proteger de doenças; iv, vou mostrar o que está acontecendo em regiões onde o número de crianças vacinadas diminuiu nos últimos anos. Como a estrutura do Blog Ciência & Saúde prevê textos curtos para estimular a leitura, decidi dividir este tema em quatro partes. Aqui, no Capitulo I, conheceremos a história de Edward Jenner, o homem que desenvolveu a vacina.
Jenner era médico, e trabalhou na cidade de Berkeley na Inglaterra de 1772 até sua morte em 1823. Naquela época, a varíola (doença causada por um vírus) era uma importantíssima causa de morte em populações do mundo todo. A cidade de Berkeley tinha uma economia rural forte, na qual a produção de leite bovino se destacava. Cuidando da saúde das pessoas da região, Jenner observou que a gravidade e a mortalidade por varíola era menor em profissionais envolvidos na lida e ordenha de vacas de leite. Ele sabia que os bovinos podiam desenvolver uma forma de varíola (varíola bovina) que diferia um pouco da varíola humana. As pessoas que trabalhavam com os bovinos infectados pela varíola bovina podiam adquirir uma forma leve da doença, apresentando pequenas lesões na pele, que invariavelmente evoluíam bem sem consequências graves para saúde. Jenner observou que tais pessoas eram protegidas da varíola humana. Com base nesta observação ele formulou a hipótese que a infecção prévia pela varíola bovina protegeria as pessoas da varíola humana. Para testar sua hipótese, Jenner colheu um pouco de pus de lesões de varíola bovina de uma de suas pacientes, Sarah Nelmes, que trabalhava com ordenha de vacas. O pus colhido de Sarah foi injetado na pele de James Phipps, um menino de 8 anos que nunca tinha tido varíola bovina ou humana. Poucos dias após receber a injeção de pus, James desenvolveu um quadro leve similar à varíola bovina. Semanas após sua recuperação, Jenner injetou no menino pus que havia colhido de lesões de varíola humana de outra de suas pacientes. Para seu contentamento e como marco da inauguração de um dos maiores avanços da história da medicina, o menino James não apresentou qualquer sintoma de varíola humana.
Este experimento foi repetido em mais sete pessoas, sempre com os mesmos resultados. Em 1797, Jenner apresentou seus resultados para a Academia de Ciências do Reino Unido. Os membros da Academia consideraram que os resultados eram potencialmente interessantes, porém pediram que Jenner expandisse o número de observações. Durante vários meses Jenner trabalhou realizando o mesmo procedimento em várias outras crianças. Sua crença no método era tamanha, que até mesmo o seu filho foi incluído no estudo. Em 1798 a Academia reconheceu a validade do estudo e autorizou sua publicação. Os estudos continuaram por vários anos e por causa de seu indiscutível efeito, o procedimento passou a ser adotado com obrigatório no Reino Unido a partir do ano de 1853 com a promulgação do Ato de Vacinação, a primeira lei que regulamentou a vacinação.
A palavra vacina foi escolhida para nomear este procedimento pois no latim a palavra vaca é vaccínia. Em todos os textos a respeito dos maiores avanços da história da medicina, o feito de Edward Jenner desponta entre os 10 mais importantes. Para mim, esta é a história mais brilhante da medicina. Opinião própria!

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