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dizendo que a pergunta que dá título a este texto não deveria sequer ser
considerada no século XXI. Entretanto, em várias partes do mundo, um número
crescente de mães e pais têm denegado a seus filhos o direito de serem
protegidos de doenças potencialmente fatais ao não permitir que eles sejam
vacinados. Ao longo da história, desde a implementação de programas de
vacinação, vários movimentos tentaram convencer a população que vacinação poderia
predispor a outras doenças. Uma das correntes atuais do movimento antivacinação
divulga que haveria risco aumentado de desenvolvimento de autismo pelas
crianças vacinadas. Invariavelmente, todos estes movimentos foram
desmistificados pelos fatos científicos. Entretanto, com a expansão das mídias
sociais, tais informações voltaram a ganhar força colocando em risco avanços
alcançados pelos programas de vacinação.
Para
tentar convencer aqueles que ainda tem alguma dúvida a respeito dos benefícios
da vacinação tracei a seguinte estratégia: i, primeiro vou contar a história de
como a vacina foi desenvolvida; ii, em seguida vou mostrar alguns números que
revelam como a vacinação foi um dos avanços da medicina que mais impactaram na
expectativa de vida dos seres humanos; iii, vou explicar como a vacina funciona
para nos proteger de doenças; iv, vou mostrar o que está acontecendo em regiões
onde o número de crianças vacinadas diminuiu nos últimos anos. Como a estrutura
do Blog Ciência & Saúde prevê textos curtos para estimular a leitura,
decidi dividir este tema em quatro partes. Aqui, no Capitulo I, conheceremos a
história de Edward Jenner, o homem que desenvolveu a vacina.
Jenner
era médico, e trabalhou na cidade de Berkeley na Inglaterra de 1772 até sua
morte em 1823. Naquela época, a varíola (doença causada por um vírus) era uma
importantíssima causa de morte em populações do mundo todo. A cidade de
Berkeley tinha uma economia rural forte, na qual a produção de leite bovino se
destacava. Cuidando da saúde das pessoas da região, Jenner observou que a
gravidade e a mortalidade por varíola era menor em profissionais envolvidos na
lida e ordenha de vacas de leite. Ele sabia que os bovinos podiam desenvolver
uma forma de varíola (varíola bovina) que diferia um pouco da varíola humana. As
pessoas que trabalhavam com os bovinos infectados pela varíola bovina podiam
adquirir uma forma leve da doença, apresentando pequenas lesões na pele, que
invariavelmente evoluíam bem sem consequências graves para saúde. Jenner
observou que tais pessoas eram protegidas da varíola humana. Com base nesta
observação ele formulou a hipótese que a infecção prévia pela varíola bovina protegeria as
pessoas da varíola humana. Para testar sua hipótese, Jenner colheu um pouco de
pus de lesões de varíola bovina de uma de suas pacientes, Sarah Nelmes, que
trabalhava com ordenha de vacas. O pus colhido de Sarah foi injetado na pele de
James Phipps, um menino de 8 anos que nunca tinha tido varíola bovina ou
humana. Poucos dias após receber a injeção de
pus, James desenvolveu um quadro leve similar à varíola bovina. Semanas após sua
recuperação, Jenner injetou no menino pus que havia colhido de lesões de
varíola humana de outra de suas pacientes. Para seu contentamento e como marco
da inauguração de um dos maiores avanços da história da medicina, o menino James não apresentou qualquer sintoma de
varíola humana.
Este
experimento foi repetido em mais sete pessoas, sempre com os mesmos resultados.
Em 1797, Jenner apresentou seus resultados para a Academia de Ciências do Reino
Unido. Os membros da Academia consideraram que os resultados eram potencialmente
interessantes, porém pediram que Jenner
expandisse o número de observações. Durante vários meses
Jenner trabalhou realizando o mesmo procedimento em várias outras crianças. Sua crença no método
era tamanha, que até mesmo o seu filho
foi incluído no estudo. Em 1798 a Academia reconheceu a validade do estudo e autorizou
sua publicação. Os estudos continuaram por vários anos e por causa de seu
indiscutível efeito, o procedimento passou a ser adotado com obrigatório no
Reino Unido a partir do ano de 1853 com a promulgação do Ato de Vacinação, a
primeira lei que regulamentou a vacinação.
A palavra
vacina foi escolhida para nomear este procedimento pois no latim a palavra vaca
é vaccínia.
Em todos os textos a respeito dos maiores avanços da história da medicina, o
feito de Edward Jenner desponta entre os 10 mais importantes. Para mim, esta é
a história mais brilhante da medicina. Opinião própria!