domingo, 4 de junho de 2017

Devemos vacinar nossas crianças? – Capítulo IV

Uma das mais importantes razões para falha no tratamento de uma doença é a execução inadequada do tratamento proposto. Não é incomum que pacientes esqueçam de tomar o medicamento, ou tomem por um período mais curto que aquele prescrito pelo médico, ou ainda numa dose menor que aquela proposta pelo médico. Talvez, o exemplo mais claro deste fato é que até 20% dos pacientes com câncer deixam de cumprir adequadamente o tratamento proposto pelo médico. Creio que, intuitivamente, todos pensariam que pacientes com câncer jamais deixariam de cumprir as recomendações médicas!
Da mesma forma, falhas na prevenção de doenças decorrem muitas vezes da não execução adequada do plano de prevenção ideal. Para doenças infectocontagiosas passíveis de prevenção pela vacinação, o plano é oferecer vacinação para toda a população susceptível de uma determinada região. Falhas podem surgir em decorrência da incapacidade do governo em produzir ou adquirir uma quantidade suficiente de doses de vacina; ou ainda, da incapacidade do governo em distribuir doses para regiões mais remotas do país; ou ainda da incapacidade do governo em difundir adequadamente a informação a respeito da necessidade de vacinar a população susceptível resultando numa baixa procura por parte da população pelos serviços de vacinação
Infelizmente, além de falhas atribuídas primariamente ao governo e aos agentes de saúde, não foi e não é incomum ao longo da história da vacinação, que falhas na cobertura vacinal da população decorram da recusa em se submeter (ou pior ainda, na denegação do direito dos filhos) à vacinação, em decorrência de crenças diversas, as quais são, invariavelmente enganosas. Vivemos hoje uma destas crises. Há pessoas, várias delas famosas e com grande poder de convencimento, que disseminam ideias não verdadeiras a respeito da vacinação. A ideia mais difundida no momento é que vacina causaria autismo. Já foi difundido que vacinas para rubéola, sarampo e caxumba causariam autismo. Porém a versão mais atual desta estória é que timerosal, um dos componentes químicos de várias vacinas, seria o vilão. Por causa desta estória fantasiosa, uma verdadeira legião de mães e pais estão privando seus filhos do direito a vacinação. Consequências desse ato de irresponsabilidade já podem ser observadas em algumas regiões.
De todas as regiões do mundo, o estado da Califórnia nos Estados Unidos concentra o maior número de famílias que se recusam a vacinar as crianças. Entre 1996 e 2010 houve um aumento correspondente a 380% no numero de crianças que deixaram de ser vacinadas. Há comunidades na Califórnia, nas quais 20% da crianças não foram vacinadas nos últimos anos. Como consequência deste comportamento, em 2015 ocorreu um surto de sarampo no estado. Foram notificados 125 casos, dos quais a grande maioria era de crianças não vacinadas. A Inglaterra e a Bélgica também apresentaram surtos de sarampo recentemente. Na Bélgica contabilizaram-se 177 casos no início de 2017; alguns dos quais foram atribuídos a falhas na vacinação. Mais grave é a situação na Inglaterra onde, em algumas regiões mais de 5% das crianças apresentou a doença.

Nem todos os países de mundo tem controle epidemiológico eficiente como naqueles relatados no parágrafo anterior. Infelizmente, muitas doenças passíveis de prevenção tem apresentado aumento no número de casos e é possível que em algumas circunstâncias, tais aumentos decorram de falhas de vacinação. Estudos sugerem que da mesma forma que a difusão de informações enganosas é capaz de convencer mães e pais a deixar de vacinar os filhos, a veiculação de informações corretas deve agir no sentido inverso. Assim encerro esta série sobre vacinas esperando que pessoas que tinham alguma dúvida sobre eficiência e segurança da vacinação tenham  tido suas dúvidas sanadas.

Postagem mais recente

Programas de controle de peso no modelo do Weight Watchers (Vigilantes do Peso) tem bons resultados?

F rente ao rápido crescimento do número de pessoas obesas no planeta, uma série de programas de orientação alimentar e de mudança de estil...

Postagem mais visitada