No
início
do século XIX a expectativa de vida dos seres humanos estava em torno de 30
anos. Havia enorme mortalidade infantil por problemas no parto, condições
sanitárias precárias, e infecções diversas. Quando sobreviviam à primeira
infância, as pessoas, ao se exporem às condições insalubres dos aglomerados humanos, tinham grande
chance de adquirir diversos tipos de doenças infectocontagiosas como sarampo,
varíola, difteria e coqueluche, entre outras. Para a maior parte daquelas enfermidades
não existia qualquer tratamento ou qualquer abordagem preventiva que
modificasse a história natural das doenças. Sobreviver era uma questão de sorte
(sabemos hoje que embutidos nesta sorte, haviam fatores genéticos e ambientais
que poderiam contribuir para proteger parte da população).
O
século XIX foi marcado por uma das maiores revoluções econômicas, sociais e científicas da
história
da humanidade. Enquanto a revolução industrial dava seus primeiros passos em
Manchester (Inglaterra), estudos progrediam com o objetivo de aprimorar o
procedimento desenvolvido por Jenner e tornar a vacinação um método passível de ser empregado para proteger grandes populações do risco de varíola.
Quando o método se tornou reprodutível e adequado para emprego em um grande número de
pessoas, o Reino Unido promulgou o Vaccination
Act (1853), primeira lei no mundo a regulamentar o procedimento de
vacinação. Durante o restante do século XIX, pesquisadores trabalharam focados
no desenvolvimento de métodos de vacinação para outras doenças. Em 1900, já existiam
vacinas para varíola, tétano, febre tifóide, raiva e cólera. A esta altura, a expectativa de vida dos
seres humanos já havia alcançado 48 anos no Reino Unido e um pouco menos em outras
regiões desenvolvidas, porém continuava próximo a 30 anos em áreas subdesenvolvidas. Apesar
de ser inquestionável o papel das mudanças econômicas e sociais obtidas durante
a revolução industrial, grande parte do ganho em expectativa de vida pode ser
atribuído aos programas de vacinação que já estavam em curso.
Na
transição dos séculos XIX/XX métodos e conceitos revolucionários introduzidos
por grandes pesquisadores como Koch e Pasteur permitiram que outros tipos de
vacina fossem produzidos. Entretanto, somente a partir das décadas de 1950/1960
a produção de vacinas ganhou características industriais possibilitando a
distribuição para populações de várias regiões do mundo. A partir da década de
1970, a Organização Mundial de Saúde (OMS) passou a participar ativamente da
difusão de informação, estímulo e controle das iniciativas de vacinação em todo o mundo. Isto
permitiu que populações vivendo em regiões pobres e remotas do planeta pudessem
finalmente se beneficiar dos avanços que se iniciaram graças ao brilhantismo de
Jenner.
Hoje
existem vacinas eficientes utilizadas para prevenir mais de 30 doenças. Pelo
menos uma doença já é considerada
erradicada, a varíola; várias outras tem sua incidência bastante controlada na
maior parte do mundo: peste, poliomielite, sarampo, raiva, tétano e difteria,
por exemplo (vejam a figura que acompanha este texto, ela mostra como o número
de casos de poliomielite diminuiu em paralelo a abrangência da vacinação, a
figura foi modificada a partir de uma figura disponibilizada no site da OMS).
Uma das inquestionáveis consequências destes avanços é o continuo aumento da
expectativa de vida no mundo. Na média mundial, seres humanos vivem hoje 68
anos; porém, em regiões mais avançadas como o Japão, a expectativa de vida já
chega a 83 anos. Impossível não atribuir à vacinação uma parcela considerável
deste ganho.