segunda-feira, 29 de maio de 2017

Devemos vacinar nossas crianças? - Capitulo II

No início do século XIX a expectativa de vida dos seres humanos estava em torno de 30 anos. Havia enorme mortalidade infantil por problemas no parto, condições sanitárias precárias, e infecções diversas. Quando sobreviviam à primeira infância, as pessoas, ao se exporem às condições insalubres dos aglomerados humanos, tinham grande chance de adquirir diversos tipos de doenças infectocontagiosas como sarampo, varíola, difteria e coqueluche, entre outras. Para a maior parte daquelas enfermidades não existia qualquer tratamento ou qualquer abordagem preventiva que modificasse a história natural das doenças. Sobreviver era uma questão de sorte (sabemos hoje que embutidos nesta sorte, haviam fatores genéticos e ambientais que poderiam contribuir para proteger parte da população).
O século XIX foi marcado por uma das maiores revoluções econômicas, sociais e científicas da história da humanidade. Enquanto a revolução industrial dava seus primeiros passos em Manchester (Inglaterra), estudos progrediam com o objetivo de aprimorar o procedimento desenvolvido por Jenner e tornar a vacinação um método passível de ser empregado para proteger grandes populações do risco de varíola. Quando o método se tornou reprodutível e adequado para emprego em um grande número de pessoas, o Reino Unido promulgou o Vaccination Act (1853), primeira lei no mundo a regulamentar o procedimento de vacinação. Durante o restante do século XIX, pesquisadores trabalharam focados no desenvolvimento de métodos de vacinação para outras doenças. Em 1900, já existiam vacinas para varíola, tétano, febre tifóide, raiva e cólera. A esta altura, a expectativa de vida dos seres humanos já havia alcançado 48 anos no Reino Unido e um pouco menos em outras regiões desenvolvidas, porém continuava próximo a 30 anos em áreas subdesenvolvidas. Apesar de ser inquestionável o papel das mudanças econômicas e sociais obtidas durante a revolução industrial, grande parte do ganho em expectativa de vida pode ser atribuído aos programas de vacinação que já estavam em curso.
Na transição dos séculos XIX/XX métodos e conceitos revolucionários introduzidos por grandes pesquisadores como Koch e Pasteur permitiram que outros tipos de vacina fossem produzidos. Entretanto, somente a partir das décadas de 1950/1960 a produção de vacinas ganhou características industriais possibilitando a distribuição para populações de várias regiões do mundo. A partir da década de 1970, a Organização Mundial de Saúde (OMS) passou a participar ativamente da difusão de informação, estímulo e controle das iniciativas de vacinação em todo o mundo. Isto permitiu que populações vivendo em regiões pobres e remotas do planeta pudessem finalmente se beneficiar dos avanços que se iniciaram graças ao brilhantismo de Jenner.
Hoje existem vacinas eficientes utilizadas para prevenir mais de 30 doenças. Pelo menos uma doença já é considerada erradicada, a varíola; várias outras tem sua incidência bastante controlada na maior parte do mundo: peste, poliomielite, sarampo, raiva, tétano e difteria, por exemplo (vejam a figura que acompanha este texto, ela mostra como o número de casos de poliomielite diminuiu em paralelo a abrangência da vacinação, a figura foi modificada a partir de uma figura disponibilizada no site da OMS). Uma das inquestionáveis consequências destes avanços é o continuo aumento da expectativa de vida no mundo. Na média mundial, seres humanos vivem hoje 68 anos; porém, em regiões mais avançadas como o Japão, a expectativa de vida já chega a 83 anos. Impossível não atribuir à vacinação uma parcela considerável deste ganho.




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