Uma
das mais importantes razões para falha no tratamento de uma doença é a execução
inadequada do tratamento proposto. Não é incomum que pacientes esqueçam de tomar o medicamento, ou tomem
por um período mais curto que aquele prescrito pelo médico, ou
ainda numa dose menor que aquela proposta pelo médico. Talvez, o exemplo mais claro deste fato
é que até 20% dos pacientes
com câncer deixam de cumprir adequadamente o tratamento proposto pelo médico. Creio
que, intuitivamente, todos pensariam que pacientes com câncer jamais deixariam
de cumprir as recomendações médicas!
Da
mesma forma, falhas na prevenção de doenças decorrem muitas vezes da não
execução adequada do plano de prevenção ideal. Para doenças infectocontagiosas
passíveis
de prevenção pela vacinação, o plano é oferecer vacinação para toda a população susceptível de uma determinada
região. Falhas podem surgir em decorrência da incapacidade do governo em
produzir ou adquirir uma quantidade suficiente de doses de vacina; ou ainda, da
incapacidade do governo em distribuir doses para regiões mais remotas do país; ou ainda
da incapacidade do governo em difundir adequadamente a informação a respeito da
necessidade de vacinar a população susceptível resultando numa baixa procura por
parte da população pelos serviços de vacinação
Infelizmente,
além de falhas atribuídas primariamente ao governo e aos agentes de saúde, não
foi e não é incomum ao longo da história da vacinação, que falhas na cobertura vacinal da população decorram
da recusa em se submeter (ou pior ainda, na denegação do direito dos filhos) à vacinação,
em decorrência de crenças diversas, as quais são, invariavelmente enganosas. Vivemos
hoje uma destas crises. Há pessoas, várias delas famosas e com grande poder de convencimento, que
disseminam ideias não verdadeiras a respeito da vacinação. A ideia mais
difundida no momento é que vacina causaria autismo. Já foi difundido que vacinas para
rubéola, sarampo e caxumba causariam autismo. Porém a versão mais atual desta estória é que
timerosal, um dos componentes químicos de várias vacinas, seria o vilão. Por causa desta
estória fantasiosa, uma verdadeira legião de mães e pais estão privando seus
filhos do direito a vacinação. Consequências desse ato de irresponsabilidade já
podem ser observadas em algumas regiões.
De
todas as regiões do mundo, o estado da Califórnia nos Estados Unidos concentra
o maior número de famílias que se recusam a vacinar as crianças. Entre 1996
e 2010 houve um aumento correspondente a 380% no numero de crianças que
deixaram de ser vacinadas. Há comunidades na Califórnia, nas quais 20% da crianças não foram
vacinadas nos últimos anos. Como consequência deste comportamento, em 2015
ocorreu um surto de sarampo no estado. Foram notificados 125 casos, dos quais a
grande maioria era de crianças não vacinadas. A Inglaterra e a Bélgica também
apresentaram surtos de sarampo recentemente. Na Bélgica contabilizaram-se 177 casos
no início
de 2017; alguns dos quais foram atribuídos a falhas na vacinação. Mais grave é a situação
na Inglaterra onde, em algumas regiões mais de 5% das crianças apresentou a
doença.
Nem
todos os países de mundo tem controle epidemiológico eficiente como naqueles
relatados no parágrafo anterior. Infelizmente, muitas doenças passíveis de
prevenção tem apresentado aumento no número de casos e é possível que em algumas circunstâncias, tais aumentos decorram de
falhas de vacinação. Estudos sugerem que da mesma forma que a difusão de
informações enganosas é capaz de convencer mães e pais a deixar de vacinar os filhos, a
veiculação de informações corretas deve agir no sentido inverso. Assim encerro
esta série
sobre vacinas esperando que pessoas que tinham alguma dúvida sobre
eficiência e segurança da vacinação tenham
tido suas dúvidas sanadas.