terça-feira, 13 de junho de 2017

Cirurgia bariátrica em adolescentes

A obesidade infanto-juvenil é hoje um dos temas que geram maior preocupação com relação à saúde pública no mundo. O desenvolvimento precoce da obesidade tem um impacto negativo muito importante na saúde do adulto. Há risco maior de se desenvolver de forma precoce doenças como diabetes, aterosclerose e hipertensão. Em decorrência disso, adultos que foram crianças obesas tem risco elevado para sofrerem infarto do miocárdio (ataque cardíaco) ou acidente vascular cerebral (derrame) quando ainda relativamente jovens. Existem também evidências de que adultos que foram crianças obesas tem menor rendimento profissional, perdem mais dias de trabalho e custam muito mais para os sistemas de saúde.
Com todas essas informações em mente, pesquisadores tem se empenhado na busca por soluções que previnam o desenvolvimento precoce da obesidade e tratem adequadamente e com bons resultados as crianças e adolescentes que já são obesos. Infelizmente, a maior parte das abordagens que tiveram por objetivo modificar o estilo de vida das pessoas, levando-as a se alimentar de forma mais saudável e praticar mais exercícios tiveram resultados muito inferiores ao desejável.  Assim, como as abordagens terapêuticas disponíveis não são eficientes, pesquisadores decidiram testar um método muito mais invasivo. A cirurgia bariátrica.
A cirurgia bariátrica é um procedimento aprovado para tratar adultos obesos desde que estes tenham obesidade grave [índice de massa corporal (IMC) maior que 40/ o IMC é calculado da seguinte forma = peso (kg)/altura (m)2 ], ou que tenham obesidade moderada (IMC maior que 35), porém com alguma doença que aumente o risco cardiovascular como hipertensão arterial, diabetes ou aterosclerose. Não existe hoje qualquer forma de tratamento para a obesidade que seja mais eficiente que a cirurgia bariátrica. Entretanto, a cirurgia bariátrica não é isenta de riscos. Existe o risco intra-operatório, como problemas com anestesia, ou um sangramento excessivo que seja difícil de ser controlado pelo cirurgião. Existe o risco pós-operatório imediato, por exemplo, infecções ou sangramentos tardios. E, existe ainda o risco tardio, como por exemplo deficiências de vitaminas e nutrientes (por causa das modificações cirúrgicas do estomago e intestino o paciente passa a ter deficiência na absorção de algumas vitaminas e nutrientes).
Mesmo considerando todos estes riscos, ainda assim, são inquestionáveis os benefícios trazidos pela cirurgia bariátrica. Entretanto, os estudos que nos levam a tais conclusões foram feitos em adultos. Com o objetivo de avaliar os riscos e benefícios da cirurgia bariátrica em adolescentes, um grupo de pesquisadores norte-americanos avaliou 242 adolescentes obesos que foram submetidos ao procedimento cirúrgico. A idade média dos participantes era 17 anos, o IMC era 53 (ou seja, muito obesos) e 12% deles já manifestava diabetes. O estudo acompanhou os jovens por três anos após a cirurgia. De forma parecida com o que ocorre em adultos, seis meses após a cirurgia, os jovens já haviam perdido 30% do peso inicial. Ao longo do estudo, houve redução considerável e benéfica dos níveis de glicose e lipídeos (colesterol e triglicerídeos) no sangue. Houve ainda redução da pressão arterial e melhora da função dos rins. Houve ainda uma indiscutível melhora global na qualidade de vida e da autoestima. Os principais problemas detectados foram, deficiências de algumas vitaminas, particularmente vitamina B12, e deficiência de ferritina, uma proteína importante para armazenar ferro no nosso organismo. Os pesquisadores concluíram que, considerando o grau de obesidade e os riscos que esta condição traz a médio e longo prazo, a cirurgia bariátrica surge como uma opção terapêutica eficiente e com baixo risco que pode ser considerada para tratar adolescentes. As deficiências de vitaminas e microelementos podem ser facilmente repostas desde que os pacientes sejam adequadamente acompanhados por uma equipe multidisciplinar qualificada. Assim, enquanto não dispomos de métodos menos invasivos e igualmente ou mais eficientes, a cirurgia bariátrica começa a ser considerada como uma alternativa para o tratamento dos nossos jovens muito obesos.

Principal referência para este texto: Inge TH. The New England Journal of Medicine 2016 374:113.

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