A obesidade
infanto-juvenil é hoje um dos temas que geram maior preocupação com relação à
saúde pública no mundo. O desenvolvimento precoce da obesidade tem um impacto
negativo muito importante na saúde do adulto. Há risco maior de se desenvolver
de forma precoce doenças como diabetes, aterosclerose e hipertensão. Em
decorrência disso, adultos que foram crianças obesas tem risco elevado para
sofrerem infarto do miocárdio (ataque cardíaco) ou acidente vascular cerebral (derrame)
quando ainda relativamente jovens. Existem também evidências de que adultos que
foram crianças obesas tem menor rendimento profissional, perdem mais dias de
trabalho e custam muito mais para os sistemas de saúde.
Com todas essas
informações em mente, pesquisadores tem se empenhado na busca por soluções que
previnam o desenvolvimento precoce da obesidade e tratem adequadamente e com
bons resultados as crianças e adolescentes que já são obesos. Infelizmente, a
maior parte das abordagens que tiveram por objetivo modificar o estilo de vida
das pessoas, levando-as a se alimentar de forma mais saudável e praticar mais
exercícios tiveram resultados muito inferiores ao desejável. Assim, como as abordagens terapêuticas
disponíveis não são eficientes, pesquisadores decidiram testar um método muito
mais invasivo. A cirurgia bariátrica.
A cirurgia bariátrica
é um procedimento aprovado para tratar adultos obesos desde que estes tenham
obesidade grave [índice de massa corporal (IMC) maior que 40/ o IMC é calculado
da seguinte forma = peso (kg)/altura (m)2 ], ou que tenham obesidade
moderada (IMC maior que 35), porém com alguma doença que aumente o risco
cardiovascular como hipertensão arterial, diabetes ou aterosclerose. Não existe
hoje qualquer forma de tratamento para a obesidade que seja mais eficiente que
a cirurgia bariátrica. Entretanto, a cirurgia bariátrica não é isenta de
riscos. Existe o risco intra-operatório, como problemas com anestesia, ou um
sangramento excessivo que seja difícil de ser controlado pelo cirurgião. Existe
o risco pós-operatório imediato, por exemplo, infecções ou sangramentos tardios.
E, existe ainda o risco tardio, como por exemplo deficiências de vitaminas e
nutrientes (por causa das modificações cirúrgicas do estomago e intestino o paciente
passa a ter deficiência na absorção de algumas vitaminas e nutrientes).
Mesmo considerando
todos estes riscos, ainda assim, são inquestionáveis os benefícios trazidos
pela cirurgia bariátrica. Entretanto, os estudos que nos levam a tais
conclusões foram feitos em adultos. Com o objetivo de avaliar os riscos e
benefícios da cirurgia bariátrica em adolescentes, um grupo de pesquisadores
norte-americanos avaliou 242 adolescentes obesos que foram submetidos ao
procedimento cirúrgico. A idade média dos participantes era 17 anos, o IMC era
53 (ou seja, muito obesos) e 12% deles já manifestava diabetes. O estudo
acompanhou os jovens por três anos após a cirurgia. De forma parecida com o que
ocorre em adultos, seis meses após a cirurgia, os jovens já haviam perdido 30%
do peso inicial. Ao longo do estudo, houve redução considerável e benéfica dos
níveis de glicose e lipídeos (colesterol e triglicerídeos) no sangue. Houve
ainda redução da pressão arterial e melhora da função dos rins. Houve ainda uma
indiscutível melhora global na qualidade de vida e da autoestima. Os principais
problemas detectados foram, deficiências de algumas vitaminas, particularmente
vitamina B12, e deficiência de ferritina, uma proteína importante para
armazenar ferro no nosso organismo. Os pesquisadores concluíram que,
considerando o grau de obesidade e os riscos que esta condição traz a médio e
longo prazo, a cirurgia bariátrica surge como uma opção terapêutica eficiente e
com baixo risco que pode ser considerada para tratar adolescentes. As
deficiências de vitaminas e microelementos podem ser facilmente repostas desde
que os pacientes sejam adequadamente acompanhados por uma equipe
multidisciplinar qualificada. Assim, enquanto não dispomos de métodos menos
invasivos e igualmente ou mais eficientes, a cirurgia bariátrica começa a ser
considerada como uma alternativa para o tratamento dos nossos jovens muito
obesos.
Principal referência para este texto: Inge TH. The New England Journal of Medicine 2016
374:113.